quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Pingo


Cais dessa nuvem negra, mesmo por cima da minha habitação. Observas-me a escrevinhar à janela à luz do candieiro de rua, fazendo pausas a cada cinco palavras para introduzir um pouco mais de nicotina no meu sistema.
Estatelas-te no passeio, logo te apressas a agregar com as tuas irmãs moleculares e alegras-te por fazer parte desse fluxo que se dirige até à ribeira que se encontra no vale mais próximo. Com outros milhões como tu, ganhas velocidade ao deixar o meu concelho e no das alheiras apanhas boleia com o Tua.
Serpenteando entre fragas e penedos, passando por locomotivas desactivadas, continuas o teu caminho chocando com pedras, vendo animais e fugindo ao tempo até chegar a um dos rios mais nobres, um que empresta o seu nome ao vinho. Percorres esse trajecto com um orgulho descomedido, não consegues acreditar na beleza que vês e de que neste momento fazes parte.

Nas margens avistas cidades deslumbrantes, atravessas barragens sem te deteres. Uma valente nova força vem juntar-se a ti vinda do norte, as tuas irmãs que vêm do Tâmega. Vêm juntar vigor, força a este rio que se dirige a todo o vapor para o propósito final. Enxergas duas cidades, tão belas à luz desta lua cheia, cidades que deram o nome ao meu belo país, transpões a linha ao lado desse castelo de queijo e chegas ao destino, o final, o oceano.
Daqui tens uma nova aventura, na qual eu não te posso seguir e resta-me apenas desejar-te uma bela viagem e que um outro dia me visites novamente.

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