quarta-feira, 8 de junho de 2005

Eternamente

Capitulo




Sophie encontrava-se imersa em mais um dos seus incontáveis livros, daqueles que a libertavam, a faziam esquecer um pouco o mundo à sua volta e mergulhar em mais uma jornada fantástica, onde o céu é limite, quando abruptamente é interrompida por um toque no ombro.

- Você não pode ficar aqui, a biblioteca vai encerrar.

- Ok, muito obrigada, até amanhã.

Todos os dias que podia, escapulia-se para esta divisão da biblioteca, que era só dela, o seu refúgio dentro da escola dela, uma fuga à realidade. Pôs-se a caminho de casa, sabendo que nada de novo a esperaria, nada de excitante, apenas mais um serão a ver T.V. e a comer a comida preparada no microondas. Abriu a porta e deparou-se com um envelope amarrotado na secretária, não tinha remetente, apenas o seu nome e morada, numa caligrafia arcaica. Sem demoras, abriu o envelope, reparando num papel com apenas o nome de uma rua e o número da porta.

- Olá boa noite Sophie – cumprimentou a colega.

- Sim está tudo bem, como foram as tuas aulas? – Perguntou atrapalhada, sentindo-se interrompida num momento íntimo.

- Correu bem, estás com uma cara esquisita, o que aconteceu?

- Hum? Nada, estava só a pensar num trabalho. – Mentiu ela

- Olha nos vamos sair, não queres vir connosco?

- Não, estou com sono, lamento.

- Ok, até amanhã Sophie.

- Até amanhã.

A Sophie voltou ao misterioso envelope e à respectiva carta. Viu a morada, pegou num mapa da cidade e encontrou a respectiva rua, curiosamente não ficava mais longe do que 10minutos da sua casa. Foi irresistível para ela, tinha de descobrir o que existia naquela morada, agasalhou-se e então saiu de casa, enquanto fechava a porta ideias começaram a fluir na sua mente, “e se é alguma partida” pensou, mas esta foi rapidamente substituída por outra, “e se for alguma coisa fantástica”, se não descobrir o que era poderia arrepender para sempre, não iria conseguir viver com a dúvida, então pôs-se a caminho.

A Rua era obscura, um beco, com pouca claridade, musgo crescia nas paredes de granito, começava-se a levantar nevoeiro, o que ajudava a criar um ambiente mais sombrio. Mal virou para o beco a lua cheia exigiu o seu lugar no céu, tornando tudo um pouco mais claro. Começou a pensar que seria muito fácil de a encurralar neste beco. Era uma tola em cair neste truque, a um passo de voltar para trás, viu a loja com o número indicado, era mesmo no final da rua, uma pequena livraria. Bateu à porta, a porta abriu-se, e ninguém respondeu. Chamou por alguém ao mesmo tempo que entrada dentro da loja, ninguém respondia. Achava a situação muito esquisita, mas aquele cheiro a livros antigos, aquilo que significava, fê-la esquecer rapidamente a situação em si. Todo aquele conhecimento todas aquelas aventuras, histórias, aqueles mundos todos ali juntos clamando pelo seu nome “Sophie”.

Uma luz entrou dentro da livraria, a luz da lua incidia num livro, livro esse pousado em cima de uma mesa cheia de pó, e sob o livro estava outro envelope com a inscrição “para ti Sophie, que este livro te ajude na tua jornada e te forneça o saber necessário”. Aquela nota deixou Sophie muito excitada, um livro para ela, finalmente tinha a honra de possuir um livro, tinha de começar imediatamente a lê-lo, mas não podia ser ali, teria de ser no seu lugar especial, na sala da biblioteca, no seu refúgio, mas a biblioteca estava encerrada, ela sabia uma maneira de lá entrar mas não era invasão de propriedade, poderia ser presa. Mas a sua excitação falava mais alto, resolveu ir até lá.

Abriu a janela com o fecho estragado e dirigia-se aos pulinhos para a sua sala especial, ouvia agora pessoas a murmurar, tencionava ignorar o facto, mas ao ouvir o seu nome as suas pernas estancaram em frente à porta de onde se ouviam as vozes, as suas orelhas arrebitaram tentando decifrar o que era dito na sala.

- Ela está muito próximo da verdade, ela passa os dias na biblioteca segundo o que me constou, penso que pode adquirir conhecimentos perigosos, e levar àquilo que mais tememos, temos de a afastar da biblioteca – disse a voz de um homem que não conhecia.

- Mas esse é o seu único prazer, ela fica aqui e lê – ouvi da Madre superiora aquilo que o meu coração dizia.

- Eu não vou ser flexível, o destino do nosso reino, e do mundo depende disso e você sabe-o tão bem quanto eu. – Replicou o homem.

- Sei. – Disse com mágoa a Madre Superiora.

- A partir de hoje em diante ela deverá ser afastada de qualquer fonte de informação para além dos livros escolares, ou a informação criteriosamente filtrada pelos serviços de informação do reino.

- Estamos conversados Madre superiora.

- Sim – Despediram-se, levantaram-se da cadeira, e só quando ouviu as cadeiras mexerem ela acordou para a realidade, ela tinha de esconder-se, mas onde? Encostou-se à parede em frente à porta. Os passos aproximavam-se da porta, ela ouvia-os cada vez mais perto, o seu coração batia mais forte a cada passo dado, ela iria ser apanhada, ela estava paralisada com o medo, iriam dar-lhe a ordem de nunca mais se aproximar da biblioteca, não poderia mais ir até ao seu santuário, tudo acabara para ela. Sentiu o puxador rodar, recordou-se que tinha o livro nas mãos, muito possivelmente iriam tirar-lhe o livro, iria perder o seu bem mais precioso. Tudo aconteceu muito rapidamente, a porta abriu-se, ela agarrou-se ao livro e desejou desaparecer da face da terra. Viu o homem loiro, nos seus 20 a olha-la fixamente, ela agora sabia, estava tudo perdido. Os seus olhos encontraram-se, não mais de dois segundos, depois desviaram-se e continuaram pelo corredor falando de coisas frívolas. Ela não acreditava, como poderiam eles não a ter visto? Estava mesmo de frente a eles. Depois de se acalmar, olhou para si, estava diferente. Não conseguia ver-se, o que iria fazer agora, como se tinha colocado nesta posição, não sabia o que ocorrera, como era possível ela estar invisível e o mais importante, como poderia reverter o processo. Começou a chorar e a solução convulsivamente, dirigiu-se para a sala dela, precisava do conforto que aquela sala lhe conferia, chegou à sala, tropeçou no tapete, pois não conseguia ver os seus pés, largando o livro, que no chão caiu fazendo imenso barulho. De seguida sentiu e ouviu os passos de alguém a correr a dirigir-se para esta sala, acalmou-se e não fez barulho, talvez ainda não a conseguissem ver, a luz acendeu-se e viu o homem loiro procurar pela origem do barulho, ela tentava encontrar o livro caído no chão. No instante que encontrou o livro puxou-o e levou-o de encontro ao seu peito, segundos antes que o homem tropeçasse nele. A Madre superiora chegara e encontrava-se estancada em frente da porta de entrada.

- Alguma coisa? – Interrogou

- Não, não percebo. Esta sala parece ter sido a origem do barulho.

- Sean, sabes que pode ter vindo de qualquer lugar, estes ecos podem confundir. – Sean era o seu nome, agora ela já tem um nome para associar ao homem que tinha roubado o seu único prazer, ela sentia um sentimento que nunca tinha sentido tão intensamente até aquela noite, raiva, muita raiva. Ela iria descobrir o porquê de o homem tanto mal lhe desejar. Eles fecharam a porta de entrada da biblioteca.

Sentia-se agora segura, olhava para o livro, como podia ela olhar para o livro? Já não estava invisível! Não percebia porque, nem se lembrava quando voltou ao normal. Decidia agora esquecer por alguns momentos esse acontecimento e concentrar-se no seu objectivo primordial daquela noite, estudar o livro que lhe haviam oferecido. Analisou o livro, com capa de cabedal, parecia muito velho, reparava agora num cadeado do lado, será que haveria uma chave na mesa e não reparara? Agora arrependia-se de não ter explorado mais a livraria e de ter saído tão bruscamente. Assim que tinha descoberto o livro esquecera-se de tudo o resto à volta dela, como é normal. Começara a imaginar que mais tesouros lhe reservada a livraria e quem lhe teria oferecido o livro enquanto os seus dedos percorriam as inscrições na capa. Algo despertou na sua mente, ela conhecia estes símbolos, eram símbolos que o avô inventara para ela, ou assim pensava ela, na inscrição lia-se “Sábio livro, Livre sábio”, o que quereria dizer? Olhava agora para o centro, havia uma circunferência, com símbolos esquisitos que ela nunca tinha visto, à excepção de um, duas luas olhando-se de faces opostas, uma dourada e outra prateada, com quatro globos, um por cada ponto cardeal. Conhecia este símbolo da sua juventude, era o símbolo da bandeira que o avô guardava secretamente no seu escritório que ela encontrara sem querer, o avô depois explicara-lhe o significado, duas luas, bem e mal, e quatro pontos representando as quatro direcções mestras, era o símbolo do perfeito. Lembrava-se agora do seu avô, e do colar que lhe avia oferecido, contendo a foto dos dois, retirou-o e viu a foto com o avô que tanto estimava e que infelizmente tinha morrido há cerca de 5 anos atrás, deixando no seu testamento, incompreensivelmente, que a queria ver neste colégio até completados os seus 18 anos. Tinha agora 17, dentro de alguns meses atingia a maturidade e ainda não saberia o que iria fazer, se as freiras a deixariam ficar, se teria de se ir embora, enfim, estava a divagar mais uma vez, era uma maneira de se acalmar, um escape ao problema que tinha pela frente.

Como iria abrir o livro? Será que se desejasse, o livro iria abrir-se? Tentou concentrar-se nisso, tentando fazer com que o livro se abrisse, não acontecendo nada, ficou muito desapontada. Neste momento o episodio da invisibilidade parecida um sonho acordada, estaria ela na sua cama a dormir, seria isto tudo um sonho? Ou antes, um pesadelo? Uma dor aguda percorreu-lhe o braço, tinha-se cortado na fechadura do livro, levava agora o dedo à boca, deixando cair uma gota de sangue sobre o livro, assim que a gota caiu, ouviu um estalido. O cadeado tinha-se aberto, teria sido por causa do sangue ou da sua vontade em abrir o livro, não tinha a certeza. Para ela eram as duas únicas possibilidades lógicas. Abrira o livro, estava escrita uma nota de dedicatória nos mesmos estranhos símbolos que o avô lhe ensinara, dizia “Para a minha queria Sophie, que encontre um rumo e a desgraça não se verifique uma realidade”, seguida de outra nota escrita a lápis “Só entregar à Sophie no seu 18 aniversário”. Não entendia, o seu aniversário era daqui a uns meses. Porque não tinham respeitado a vontade do avô e entregue o livro meses antes do seu aniversário? A quem o avô tinha confiado o livro para lho entregar, porquê tanto mistério, porque não entrega-lo em mãos? Teria o ajudante do avô sabido da intenção de Sean em retirar-lhe todos os livros, e antecipar-se a ele? Já eram demasiadas perguntas, continuava a desfolhar o livro, via um mapa, um que não conhecia, aqueles países com nomes esquisitos, capitais que nunca tinha ouvido falar, com uma única legende no fundo “a eterna utopia”. Continuava a desfolhar e começou a ler o que o avô tinha escrito.

“Teríamos alcançado o máximo das nossas forças? o que acontecerá? Como podemos termo-nos esquecido de tudo o que passamos, de onde apareceu toda esta destruição? Escrevo este livro para te contar o que se passou com o nosso povo, a sua história, sem interferências do controlo do reino, a sua subida ao palco inter mundial e a sua subsequente queda. Não te vou contar a história do Reino dos Visos, pois tu não és uma Viso, o nosso povo é mais antigo.”

Voltara agora à página anterior e verificava que reconhecia uma pequena península, era a sua península, o reino dos visos. Mas com o nome diferente. Continuava a ler.

Este mundo foi fundado a ferro e fogo, imensos séculos de lutas forjaram imensos países e destruíram outros, era um ciclo completo, nasciam, viviam para a glória e depois caíam em desgraça. Ao longo dos séculos, a cultura, a ciência e tecnologia avançavam, chegamos a desbravar outros mundos e a coloniza-los.

Houve depois uma grande guerra de ambições, que levou o nosso mundo a ser consumido por guerras que o levaram à ruína, as nossas colónias tiveram de vir ajudar-nos a conter o avanço daqueles que a ambição era conquistar a qualquer custo. Pelo pressuposto de manter a paz ficaram por cá, ao longo do tempo, de colonizadores, passamos a colonizados, nunca mais recuperamos a nossa antiga glória

No entanto o povo do nosso mundo uniu-se à volta da “eterna utopia”, lutando guerreando, exigindo a direcção dos nossos destinos, a independência total da interferência dos outros mundos. Com muitos anos de trabalho conseguimos chegar à “eterna utopia”. Todo o nosso mundo sob a mesma bandeira, com as diversas regiões, os seus povos, culturas e línguas. O nosso mundo começou a prosperar rapidamente, a liberdade fluiu em todo o lado, a tolerância, o conhecimento, a amizade circulava pelo país todo. Voltamos a reclamar o nosso lugar nas estrelas.

Tanta riqueza começou a criar inveja, os outros mundos cobiçavam a abundância, a organização a desprezar a liberdade que tínhamos, que era uma afronta à sua maneira de viver. Fomos invadidos há cerca de 50 anos, dividiram-nos em países, retalharam o nosso bem amado país, tentam criar inimizades entre os nossos, assassinaram todos os Homens que lhes podiam fazer frente.

Nós organizamo-nos, escondemos os nossos bens mais preciosos e aglutinamos todo o nosso conhecimento em vários artefactos espalhados pelo país, este livro é um exemplo disso. Escondemos os artefactos para que um dia reergamos a “Eterna Utopia”.

Peço-te Sophie, que nos ajudes nesta demanda pois tudo dependerá, eventualmente, do teu julgamento. As trevas ou a luz incidiram no nosso belo país, dependerá de ti.”

O avô sabia mesmo escrever histórias fantásticas, ela lembrava-se de todas as histórias que o avô lhe contava, com reinos mágicos, lutas extraordinárias de magia entre mundos, sempre contadas com muito vigor. O avô era um actor excepcional, comovia-se sempre com as suas histórias. Esta história prometia ser a melhor que o avô alguma vez inventara. Fora ele que a ensinara a ler e escrever, e também lhe ensinara o valor do conhecimento. Continuou a ler.

Sophie, isto não é uma história dos livros, isto aconteceu mesmo, não é ficção é realidade. Aliás, todas as histórias que te “inventava” quando eras pequena aconteceram mesmo, foi a maneira de te passar o conhecimento que tinha, estava proibido pelo Reino de te contar directamente o que se passou realmente, aquilo que eles chamam história do Reino, apenas é propaganda. Não sei quanto tempo me resta minha neta, estou rodeado por inimigos, muita gente não quer ver o meu sonho de reerguer a Eterna Utopia realizado.

Devo-te também alertar para o facto de provavelmente a partir deste dia, o teu 18 aniversário, vais começar a emanar força mágica, porque te esta no sangue, o que vai atrair até ti todo o tipo de gente, tanto gente que te quer mal, como as mais benévola das pessoas. Tens de confiar no teu instinto e ser forte para lidar com as traições, abre o teu coração, ele te dirá.”

Seria aquele episódio de invisibilidade, uma das emanações mágicas que o avô falava? Mas não estava a ler uma história dos livros dela, isto estava mesmo acontecer, havia pessoas com emanações mágicas. Não podia acreditar, o sonho dela estava a realizar-se.

Tu és muito importante para os Eternos, aqueles que defendem o nosso país, pois uma grande sábia, uma grande vidente, no seu leito de morte previu que tu e só tu irias encontrar aquele que nos salvará das trevas, é a tarefa mais importante de sempre, nos estivemos a tratar de tudo para conseguires empreender uma viagem pelo nosso país à procura daquele que nos salvará das trevas. A profecia só nos diz que serás a pessoa que o encontrarás não diz como, onde ou porque, portanto confiamos no destino e confiar-te-emos o nosso bem mais precioso para te acompanhar, o amuleto que encontrarás no meio deste livro”

Abriu o livro no meio, e encontrou uma lua prateada com uma esfera. Era um medalhão, em muito semelhante ao símbolo que se encontrava na capa. Voltou à outra página e continuou a ler.

Sophie deverás ler o resto do livro que contém fórmulas de protecção e conhecimento sobre todo o mundo mágico, aqui me despeço minha filha, não me resta mais tempo, sinto-me fraco, vou pedir a um amigo de confiança para acabar as fórmulas e to envie pois já não tenho tempo para isso.

Resolvi trocar as voltas aos nossos perseguidores mudando o teu nome e enviando-te para o último sítio onde te encontrariam, um colégio gerido pela Autoridade. Deves voltar à nossa região para completares a tua herança mágica e cumprires o teu destino.

Adeus minha neta, estarei sempre a olhar por ti.”

A Sophie chorava, se não tivesse vivido esta noite, teria achado o texto um pouco mais do que um livro infantil ou uma paranóia do avô, em vez da estranha realidade. Mas neste momento tudo parecia encaixar perfeitamente. Abriu novamente o livro ao meio e pegou no medalhão, sentiu imediatamente uma corrente de energia a percorrer-lhe o corpo, como se electricidade fosse. E começou a ler a descrição das fórmulas mágicas ali contidas, lia com uma ânsia enorme, devorava cada página e assimilava instantaneamente o conhecimento.

Aprendera a utilizar a língua mágica dos seus antepassados, tinha descoberto que os símbolos que o avô lhe ensinara não passaram disso, a língua dos seus antepassados que estava carregada de magia. Aprendera a conjugar as letras para formar as fórmulas que vinham descritas no livro.

Nascia o sol, estava quase a acabar o livro, quando decidiu que era melhor sair dali, pois daí a pouco a biblioteca iria abrir e teria de ir ate casa buscar mochila e deixar o livro em local seguro. Não poderia dar ao luxo de descobrirem o seu livro.

Antes de ir para a escola decidira tentar alguns feitiços de protecção ao livro e esconde-lo. Procurou os símbolos na sua mente para criar uma teia no canto do quarto, as marcas circulares saíram-lhe dos dedos sob forma de teias que se prenderam ao canto, não perdeu tempo em colocar o livro em cima da teia cobriu de seguida o resto do livro com teias. Pensou numa fórmula de armadilha, colocou a na teia, com um aviso na sua mente se alguém mexer na sua teia. Para finalizar o processo teria de por todo aquele aparato invisível não fosse alguma das suas colegas entrar no quarto. Ela divertia-se imenso com aquilo, parecia uma criança no dia de natal, deixou a marca da invisibilidade que tornaria o livro invisível para todos aqueles que não usavam magia.

Depois daquela noite, a Sophie estava completamente entusiasmada em ir para casa, entranhar-se o seu livro, pela primeira vez em muito tempo ansiava ir para casa. Quando acabou a sua última aula saiu pela porta fora, como se mais nada houvesse no mundo, foi detida por uma voz familiar, era a Madre superiora, tinha-se esquecido da conversa que ela ouvira entre os dois adultos. A sua sentença, mas neste momento nada disso lhe interessava, ela estava a viver as suas próprias aventuras, sentia-se como a personagem principal de um livro.

- Sophie, lamento informar-te mas o conselho escolar, face às tuas notas, decidiu que deveríamos proibir-te de voltares à biblioteca, e a ler qualquer outro livro que não seja os livros da escola. – A desculpa era um pouco desprezível, visto que a Sophie tinha exactamente as mesmas notas de quando ali começou a estudar.

- Ok Madre superiora. – A não discussão, ou qualquer outra reacção por parte de Sophie intrigou a Madre Superiora, a Sophie percebeu isso e decidiu que era melhor fazer alguma coisa, ou então seria descoberta, começou a fazer teatro, e a chorar.

- Lamento, Sophie, mas é para o teu bem.

- Sim, Madre Superiora. Agora vou para casa. – E saiu a correr.

- Espera Sophie! – Mas a Sophie já não a ouvia, queria ir para casa junto do seu livro.

Abriu a porta do quarto e viu o homem louro, o Sean no seu quarto a tentar abrir o encantamento que a Sophie deixava no livro. Saíam uns símbolos esquisitos das mãos do homem, parecia uma magia diferente daquela que ela aprendera ainda hoje.

- Quem é o Senhor? – Fingindo que não o conhecia, embora de facto fora uma surpresa encontra-lo no seu quarto. Estava à espera da sua resposta. O homem não parou o que estava a fazer.

- O que faz este livro aqui? – Perguntou ele, fugindo à pergunta da Sophie.

- Não lhe interessa! É meu e não tem o direito de o retirar! – Disse irritada

- A menina foi proibida a leitura de qualquer outro livro a não ser os livros escolares.

- Como sabe você isso? – Querendo ver a desculpa que o homem lhe fornecia.

- Sou Sean, o Representante de sua excelência o Alto Sábio, que a pedido do seu avô cuidou de si desde o infeliz falecimento do seu avô, por causa naturais. – A Sophie interrogou-se o porquê de ele ter enfatizado “causas naturais”, teria aquele homem alguma coisa haver com a morte do avô?

- Agora dá-me o livro e vou-me embora. – Gritou o homem, tentando subjuga-la pela voz.

- Nunca! – Saltou para o canto para proteger o seu único bem, o livro que o avô lhe confiara. – Sean parou o feitiço.

- Saia da frente ou será pior para si! – Sean lançou um feitiço para adormecer, o que ele desconhecia era o conhecimento mágico que a Sophie já dispunha, e ela sabia perfeitamente que defesa utilizar. Se este homem armado em padre vinha aqui retirar-lhe o livro não iria sair sem luta, noutro dia talvez, hoje não. Não depois de tudo aquilo por que ela passara, Sophie era outra pessoa, lançou um escudo à sua volta e à volta do livro, levando Sean a abrir a boca de espanto face à destreza que demonstrava na aplicação das suas capacidades mágicas. Sophie aproveitou e retirou o livro e enfiou-o na sua mochila. Sean recuperou do choque e lançou uma bola de fogo ao escudo levando-o a partir-se em bocados de energia, que se espalharam pelo chão. Sophie não querendo desperdiçar aquela energia levantou os pedaços do escudo no ar e lançou-os contra o seu opositor, tal qual pedaços de vidro, o padre só teve tempo para convocar um meio escudo, sendo atingido por um estilhaço na perna, que o levou a cair no chão de dor. Sophie aproveitou a oportunidade, saltou por cima da cama e fugiu pela porta fora, viu no fundo do corredor a Madre superiora e gritou.

- Não me tente procurar. Obrigada por tudo o que fez por mim, agora tenho de cumprir o meu destino. – Correu na direcção oposta à da Madre Superiora. Esta estava estática, quase a ter um ataque cardíaco, ao ver que o seu maior medo se concretizava diante dos seus olhos, assim que recuperou, tentou alcança-la, passando pelo quarto dela, viu o padre no chão, temendo o pior foi ter com ele.

- Só foi um corte na perna, nada de mais.

- Sean ela vai…

- Sim, temo que sim, Ela tem o livro… E já tem o conhecimento maldito…

- Falhei na minha mais nobre missão como Madre superiora, ele nunca me irá perdoar.

- Falhamos, terei de informar o Alto Sábio. Deus nos ampare, o Rei nunca pode saber do que se passou hoje, para ele este assunto está resolvido à anos.

Sophie saiu do colégio, sem saber em que direcção ir, só tinha na mente, tenho de ir para a nossa região. Mas qual era mesmo essa região? Apercebeu-se que não sabia…ou sabia? O que lhe havia o avô dito? “Abre o teu coração, ele te dirá”

Capitulo




Sophie encontrava-se alheia a todos os estímulos que o ambiente lhe proporcionava, ela seguia em frente, não tinha a certeza para onde. Seguia o conselho do avô. Chegara a um cruzamento, e agora em que direcção dirigir? Pegou no colar que o avô lhe tinha oferecido e apertou-o, formulou a pergunta na sua mente, “em que direcção devo seguir avô?”, de seguida sentiu algo a percorrer-lhe as mãos e a fluir para o seu cérebro, era uma energia quente, tal como aquela que se sente quando se esta em frente a uma fogueira no Inverno. Sentiu uma ideia a formar-se-lhe na mente. Teria de se dirigir o mais rápido possível à estação de comboios, e apanhar o próximo comboio em direcção à região mais a sul do reino, em direcção à cidade de Junesttun. Agora sentia medo, todos os dias, na escola falava-se das múltiplas ondas de violência que tinham surgido naquela região problemática. E a quantidade de problemas que estava a criar à guarda do rei. Este medo foi substituído por carinho que ela sentia pelo avô, iria confiar no seu conselho e seguir para onde o coração lhe mandara. Seria aquela cidade a sua cidade natal? Ela recordava-se vagamente da cidade onde tinha vivido os seus primeiros anos depois dos país falecerem, pois passava a maior parte dos seus dias a brincar pelos campos e em casa com o avô.

Ouvia agora o barulho da estação, decidiu andar mais rápido, chegou à estação, comprou o bilhete e dirigiu-se ao seu lugar no comboio, a viagem não durava mais do que 4 horas. Ficou numa carruagem sozinha, decidiu então tentar a sua sorte e continuar a ler o seu livro precioso. Tirou-o do saco e quando o ia abrir ouviu.

- Que livro tão giro, deixas-me ver esse teu livro, parece uma velha relíquia. Deve ser valioso. – Murmurou uma velha, já com o cabelos completamente brancos, levava uma bengala para ajudar à locomoção e um xaile pelos ombros.

- Não é valioso, é apenas um livro velho. Um antigo diário do meu Avô. – Respondeu secamente.

- O teu avô deve ser extremamente rico, para se dar ao luxo de comprar um diário tão caro. – Insinuava a velha

- Não é um livro valioso, o meu avô deixou-mo no testamento, gastou muito do seu dinheiro para … - Interrompeu o pensamento, apercebendo-se que tinha admitido que o livro era valioso, não sabia agora o que dizer, deixou-se ficar calada, a velha também não proferiu mais nenhum comentário. Aproveitou o momento e guardou o livro, de seguida colocou as mãos à volta da mochila, não querendo largar o seu bem mais precioso.

A sua viagem chegaria ao fim dentro de minutos, haviam anunciado a chegada à estação de Junesttun. Estava muito frenética, reconheceria ela a cidade? Estaria a chegar à sua cidade natal? O comboio abrandava, dirigiu-se à porta, despedindo-se da velha, da qual não obteve qualquer resposta. Saia agora do comboio, via uma estação muito parecida à que deixara, tudo parecia estranhamente familiar, mas não de ser uma cidade em que ela crescera, era antes por ser muito parecida à cidade de onde ela viera. Era impressionante, até ao mais pequeno detalhe, tudo naquela estação era igual.

Estava na rua, via uma cidade com cores, com azulejos de todas as cores, retratando a história do Reino e o rei. Tudo parecia tão pacífico, seriam aquelas notícias de tumultos nesta região verdade? Ou estariam os inimigos do reino fora da cidade? Deixara-se maravilhar pelas casa, andando sem rumo, passeando pelas cidades, cheirando as flores que nas varandas se encontravam, ouvindo o maravilhoso sotaque das pessoas do sul.

Deu consigo numa rua escura, não sabia como fora ali parar, ou quanto tempo havia passado desde que saíra da estação.

- Olá minha menina! Deixas-me ver esse livro agora? – Ao ouvir esta voz familiar Sophie virou-se e encontrou a velha que conhecera no comboio, acompanhada por dois rapazes com 1m90 loiros, mais ou menos da sua idade, parecidos como duas gotas de chuva, eram gémeos. Já tinha ouvido falar, mas nunca tinha visto algum, e achara mesmo que era apenas um velho mito. Tentou acalmar-se para a sua voz não transparecer o horror que vivia dentro dela, prestes a ser despojada do seu bem mais precioso.

- Desculpe, mas já lhe disse que não! Agora deixe-me passar se faz favor, tenho de ir para casa. – Não conseguia esconder o nervosismo e a sua voz fraquejava.

- Claro que deixamos-te passar rapariguinha tola! – Riram-se os três estranhos, ela relaxou e deu mais um passo em direcção à saída. – Deixar-te-emos passar se tu nos entregares esse livro. Uma snobe com tu, nunca deveria ter tido esse livro, o teu avô deve-o ter roubado. Não sabes o quão importante é esse “teu” livro. Agora dá-mo que nos o restituiremos a quem é de direito.

- Não! O livro é MEU! – Gritava, chorando.

- Rapazes tirem-lhe o livro! – Ao dizer isto, os dois gémeos atiraram-se à rapariga. – Ela deixou a sua mente fluir buscando por algo que a pudesse ajudar, os símbolos começaram a sair da sua cabeça em direcção às suas mãos, fazia um escudo em forma de globo à sua volta, impedindo assim os brutamontes de lhe tocar. Baixou-se e eles falharam o alvo.

- Ah! ‘tou a ver que profanaste o seu conteúdo e aprendeste algumas coisas básicas. Se é isso que queres fazer, assim será. – Dito isto, nos dedos da velha apareceu uma luz branca formando uma chama. Ficava maior a cada momento, Sophie fixava os rapazes e também estes faziam exactamente a mesma coisa. Ela tinha de fazer alguma coisa, tinha de pensar em algo para escapar. Será que conseguia voltar a tornar-se invisível? Mas era um pouco indiferente nesta altura, pois o seu escudo branco dava a conhecer a sua localização imediatamente. As três personagens rodearam-na, os seus corpos estavam quase completamente consumidos por chamas brancas, pareciam extremamente puras, rejuvenescedoras, limpas, frescas. Três feixes de energia fluíram para um mesmo local, a Sophie. Ela sentia a energia a penetrar no seu escudo. Sentiu a sua pureza, lembrou-se de tudo o que lhe tinha acontecido, tudo se acumulava na sua mente. Não tinha ninguém, estava completamente sozinha, estava fugida, não tinha a certeza se teria matado aquele homem, estariam À sua procura. Seria uma questão de dias para a encontrarem, era preferível perecer naquela bela energia, do que nos calabouços sujos e apinhados de um castelo-prisão do rei.

Deixou o escudo cair, e abraçou a energia dos feixes. Sentia a energia dos feixes a percorrer-lhe o corpo, como se procurassem algo, encheu-a de energia, ao ponto de a sua aura rebentar. Passados alguns segundos tudo se findara, teriam desistido do livro? Teriam ficado sem energia? O que teria acontecido? Abria os olhos para mirar os seus oponentes, deu de caras com a velha a soltar lágrimas grossas dos seus olhos, e a sua mãos a tremerem, finalmente pronunciou-se.

- Desculpa Sophie, não sabíamos que eras tu. – Aquele pedido de desculpas caiu na mente de Sophie como uma pedra. Como sabia ela o seu nome, seria aquela energia, um meio de conseguir informações das suas vítimas, havia lido no livro que em teoria isso era possível, mas somente por pessoas extremamente desenvolvidas na magia, seria esta velha uma maga antiga? Era melhor fugir dali enquanto os seus opositores estavam distraídos. Concentrou-se em ficar invisível, uma e outra vez, a velha aproximava-se. Ela tinha de reunir todos os seus esforços em tornar-se invisível. Um dos rapazes falava.

- Oh! Onde é que ela se enfiou? – Sophie, sorria. Estava finalmente invisível, agora só teria de sair lentamente sem provocar muito barulho, não fosse anunciar a sua saída.

- Espera Sophie, não te queremos mal. Quero falar contigo minha filha. – Sophie ignorava propositadamente aquilo que a velha dizia, sabia que as criaturas mais vis diriam qualquer coisa para a apanhar.

- Sophie, deixa-me explicar… -Continuava a velha. Entretanto um dos gémeos, lançou uma marca no ar. Levando a nevar naquele local. Começou-se a vislumbrar o contorno do corpo de Sophie. Ela agora sabia que era impossível não saber onde ela se encontrava, e para onde se deslocava, invisível ou não, as suas pegadas ficavam bem marcadas no chão que pisava. Decidiu correr, os gémeos ignoraram os apelos da velha em a deixarem em paz e correram atrás de Sophie, como se perseguissem um ladrão. Sophie dobrou a esquina, viu um caixote do lixo, o ideal para se esconder, não pensou no que estaria ali dentro e de seguida saltou lá para dentro. Mesmo a tempo, os gémeos chegavam ao local nesse preciso momento. Não vendo a sua vítima, decidiram recorrer à magia, das mãos dos gémeos surgiram as marcas para um feitiço de procura, a Sophie lera-o ontem. As marcas fundiram-se e transformaram-se numa enorme seta dourada, girou sobre si algumas vezes, e de seguida apontou em direcção ao caixote do lixo. Ela entrou em pânico! Viu surgir duas cabeças na entrada do caixote. Gritou, deixando escapar uma onda de choque com uma carga de energia brutal, levando os gémeos a cair e bater estrondosamente na estrada asfaltada. Rapidamente saia do caixote e começava a correr, teria de se afastar o mais rápido possível daqueles dois. Ouvia a voz do seu avô na sua cabeça, notara agora, esta a segurar o seu pendente, iria mais uma vez confiar no seu instinto.

Passado algum tempo, dobou uma esquina, e ficou estática. Estava no mesmo beco onde encontrara a velha e os gémeos. A velha continuava lá, esperando possivelmente que os gémeos surgissem com a caçada, pensava ela. Tentava pensar racionalmente. Qual seria o último sitio onde a procurariam? Exactamente ali, ninguém era suficientemente estúpido para se esconder na toca do lobo. Mais uma vez concentrava-se, precisava ficar imóvel e invisível. A breve camada de neve tinha agora derretido, deixando a rua molhada, Aproximava-se de umas caixas de papelão, onde se poderia abrigar melhor. Mirava a velha, imóvel, ficando o vazio, parecendo que estaria a deslumbrar uma bela paisagem.

Por fim os gémeos chegaram, logo a velha pareceu sair do transe em que se encontrava.

- Seus estúpidos, assustaram-na. Nós não lhe queremos mal!

- O que? Mas ela tem o livro! Tu disseste!

- Ela não é digna de o ter. – Cuspiu o outro gémeo.

- Estava enganada! Ela é a sua dona por direito, ela é a neta do meu grande amigo Huros, a sua neta que todos tomamos por morta. Só a verdadeira possuidora da verdade poderia submeter-se ao Julgamento e viver sem um arranhão. Tudo aponta que ela é aquela que a profecia antiga falar, a rapariga que irá encontrar aquele que nos salvará das trevas. – Explicou a velha. A Sophie não sabia em que acreditar, estaria a velha a dizer a verdade? Ou seria só um truque? Em que confiar?

- Agora, Sophie. Podes sair. Podes estar invisível para toda a gente, mas eu consigo ver a tua aura, depois de te conhecer a aura, nunca mais permanecerás invisível aqueles que te querem bem, por mais que tentes. – Sophie sabia que isso era verdade, tinha-o lido no livro do avô. E como poderia ela ter adivinhado que a Sophie estava ali escondida. Mas ainda tinha receio…

- Sophie, estás sentada em cima desse cartão. – A velha olhou-a nos olhos. - Foi o sinal para a Sophie, que ela estava mesmo a dizer a verdade. Voltou a ser visível para toda a gente.

- Olá! Acho que não fomos devidamente apresentados. Eu sou Mohrana, uma amiga de longa data do teu falecido avô. Estes são os meus netos, o Guilherme e o Gualter. – Os gémeos fizeram uma vénia, Sophie corou perante tal simpatia.

- Olá, prazer em conhecer-vos. Eu sou a Sophie. Queria fazer-lhe algumas perguntas sobre o meu avô… – Foi logo interrompida.

- Sim, terei muito gosto em responder, mas não aqui. Temos de nos despachar, os nossos actos mágicos geraram muitas ondas, e dentro de momentos estará aqui uma patrulha da polícia do rei. Vem connosco até nossa casa. Entramos numa rua e começamos a correr. Surpreendi-me com a velocidade que a Mohrana alcançava, como poderia ela correr assim? Era claro que a bengala existia só para manter a aparência que ela era uma velhinha sem perigo algum. A realidade era completamente diferente da realidade.

Chegamos a uma fábrica velha a cair de podre, eles abriram uma porta, levantando o braço a convidar-me a entrar. Mohrana perguntava se não tinha fome, frio ou sono. Tinha? Claro que tinha, não havia comido nada desde o almoço do dia anterior, nem tinha dormido nada a noite passada. Mohrana contava-me que tinha conhecido o meu avô uns anos antes do meu nascimento, e tinha sido a última vez que o tinha visto em carne e osso, a partir dessa ocasião, só haviam comunicado via mensageiros. Contava-lhes tudo o que lhe tinha acontecido, todas as perguntas que tinha na sua mente. Foi-lhe apresentado um prato de sopa, que prontamente começou a devorar. Continuava a explicar o turbilhão de sentimentos que dentro dela existiam, entre colheradas à sopa.

Mohrana resolveu falar.

- Sophie, a grande maga que viu o teu futuro no seu leito foi nada mais do que a tua avó. Ela gastou toda a sua energia a tentar ver um pouco mais do teu futuro, para te poderem proteger melhor. Ela sacrificou-se por ti.

- Hun? Porque foi ela tão parva? Morrer por causa de mim? Eu preferia que ela estivesse viva, assim talvez o meu avô não tivesse morrido também. E eu não estaria sozinha.

- Sophie, tu não estas sozinha, há um mar de gente que te quer bem e jurou te proteger, eu sou uma dessas pessoas. Os eternos estarão sempre na tua sombra a cuidar de ti. – Replicou Mohrana.

- Quem são esses eternos? Onde estão? Onde é a casa do meu avô? Porque vim eu aqui ter? Porque é que o amigo do meu avô mo deu antes da data prevista?

- Sophie, tens de perceber. A tua avó viu um futuro risonho para ti, de entre todos os outros. Esforçou-se muito, digamos, morreu a encontrar um futuro risonho para ti, desde esse momento os eternos juraram ajudar esse destino a tornar-se realidade. Não estava previsto que seria eu a fornecer-te esta informação. Aliás, não estava previsto este encontro, o que significa que houve um desvio do destino que todos pensávamos alcançar. Isto é muito preocupante e eu não posso por mais em risco o destino previsto pela tua avó. Não te posso fornecer mais informações. Irás dormir hoje. Amanhã bem cedo os gémeos irão levar-te a uma cidade que deverias visitar dentro de algumas semanas, talvez assim ponhamos o destino de volta nos carris.

- Mas… - Tentou Sophie

- Não quero mais discussões. Para a cama. – Saiu para a rua.

Mohrana levava a sua capa e dirigia-se a um local público, uma fonte no meio da cidade. Começava a amanhecer, tinha de se despachar. Encontrou o vulto que procurava ao lado da fonte.

- O que se deveu aquela libertação de energia toda na rede energética? O que andaste a fazer? Não deveríamos dar muito nas vistas. – Disse a voz de um homem.

- Eu sei, lamento isso. Mas não tivemos qualquer escolha. Vimos uma rapariga com um dos livros sagrados e teríamos de o recuperar.

- Um livro sagrado? Qual deles? Onde está ele? Porque não mo trouxeste?

- Não posso, está no sei dono legitimo. É o livro do Huros.

- Hun? Isso quer dizer que a rapariga maldita esta viva? Não pode ser!

- Sim está! O que quer dizer que os nossos planos estão a ir para o esgoto. Eu já tomei medidas, amanhã, os meus rapazes vão leva-la para Mirland, onde seria suposto ela estar para a semana.

- Fazes bem, é a única coisa que podemos fazer, talvez isto, só adiante os nossos planos por uma semana e nada mais. Vamos esperar isso. Agora vamos embora, já está muito claro para nós.

- Até um dia destes.

- Adeus.

O sol punha-se no horizonte, Sophie acordara com o cheiro a comida acabada de fazer. Apressara-se a vestir e rapidamente se pôs na cozinha, tentando decifrar pelo caminho o prato que estaria a ser cozinhado. Na mesa já se encontravam os gémeos em frente aos pratos, esperando que a avó lhes pusesse a comida na frente.

- Senta-te Sophie. Precisarás de forças para a viagem que irás empreender.

- Muito bem. Dito isto começaram a comer.

Puseram as provisões e bagagens na carroça. Mohrana deu-lhe alguma roupa, visto Sophie não ter qualquer roupa. O sol punha-se, e eles partiram em destino a mais uma cidade desconhecida de Sophie. Partia de Junesttun com mais algumas perguntas do que aquelas com que chegara. Mas isso não era importante neste momento. Despediram-se de Mohrana. Passados alguns momentos Sophie fixava o seu olhar no Sol a pôr-se.